domingo, 5 de agosto de 2012


E os livros insistem em nos iludir, nos enchendo de expectativas para a vida real, e nos fazendo amadurecer quando quebramos a cara e descobrimos que a sua magia e beleza não se estendem à realidade. E ainda que com os pés no chão saibamos que não passa de lindas e perfeitas histórias que os escritores dotados de tamanha inspiração criam, por trás de nossa maturidade e auto-confiança, em nosso íntimo desejamos romances tal como nas obras literárias com as quais tanto nos deliciamos, por que não há muita coisa melhor que ser amada e desejada e viver esse amor como nos livros, com a intensidade e tudo mais que os livros têm e que os tornam tão apaixonantes. E no profundo de nosso ser, às vezes desconhecido, ainda nos decepcionamos quando nossos relacionamentos trilham caminhos muito distantes dos sonhados e retratados nos livros.

Caramba, qual a dificuldade de meus pais entenderem que sou uma adolescente? Livre e apaixonada pela vida e pela noite? Tenho uma vida pra viver, pessoas pra conviver, lugares para ir, mil e um compromisso, e simplesmente decidem que estou de castigo! Ora, mas qual o motivo? Quer saber? Não importa! Eles me odeiam, nem quero saber! Terei que passar minha noite nesse quarto… Caramba, caso eles não saibam, o quarto é apenas onde a gente dorme por isso a única coisa útil nele é a cama, e o guarda-roupas, que a propósito, deveria estar repleto de novidades, mas tem apenas as peças do ultimo verão, mas e o outono? ‘Pra que roupas novas quando se está de castigo e vai passar todo o outono em casa?’ Sim, essa foi a resposta da coroa! Caramba, que monótono! Este quarto lilás… Como se alguém se importasse com a cor, como se ao menos eu gostasse de lilás, podia ser preto, seria perfeito! Ok, lilás já foi minha cor preferida, mas isso foi a anos atrás, e sim, lilás é bonito, mas é muito fofinho… argh! Hum, combina com a coberta da cama, ok, são ursinhos, fazer o que não é? Já gostei dessas coisas, e meus pais acham que ainda gosto… Mas prestando mais atenção, não é tão ridículo. É apenas infantil, mas é a minha cara, um pouco passado do meu momento, mas já foi a minha cara. Olha meu violão lá no canto… Nossa! Há quanto tempo não venho no meu quarto? Ou não reparo nele? Acho que tenho que reparar melhor nele. Como vou passar o resto dos meus longos dias de vida sofrendo aqui trancada, acho que devo cuidar disso aqui. Um mural, cheio de fotos dos maloqueiros com quem eu deveria estar agora em algum lugar da cidade. Algo preto… Sei lá o que, mas algo que diminua a fofura, mas nem tanto, essa mistura do meu hoje com o ontem até que é legal, mas nada de fotos antigas, é exigir demais de mim. E claro, tirar os ursinhos da cama, pode até ser bonitinho, mas não sou eu. Tenho que dar uma reformulada aqui urgente.